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Diálogo interreligioso: Umbanda e paganismo (wicca)

Recentemente participei de uma celebração coletiva de Samnhain, um ritual de honra aos ancestrais, à entrega do Deus para que a vida permaneça no inverno e também de celebração de Ano Novo entre os pagãos em especial a wicca.

Todos os que me acompanham sabem que eu da minha forma e com a direção da minha espiritualidade (que muito conversou comigo antes de deixar que eu celebrasse os ritos sazonais) tenho um amor enorme pelo paganismo e pela wicca.

Sempre procurei um grupo wiccano, pagão, de bruxaria que seja, em Blumenau, em especial durante o tempo que por diversos motivos eu precisei me afastar da vida em terreiro, mas na época e hoje sei as razões não encontrei. Dentre tantas, essa é uma das razões por hoje eu estar num terreiro, eu preciso da vivência religiosa no coletivo. Eu sou por natureza solitário, se na religiosidade também o fosse eu acabaria não tendo vida social, e como bem disse Vo Joaquim, minha saúde psicológica precisa de que eu me sociabilize.

Meus problemas psicológicos a parte, talvez haja um primeiro estranhamento de como duas religiões a princípio tão diversas podem dialogar. Uma é orgulhosamente pagã (do campo e/ou não cristã), a outra tem em quase todos os seus altares a imagem de Jesus Cristo. Mas não me apego ao que difere, mas ao que une. E como religião é diferente de espiritualidade, as formas como se cultua o divino são muitas, mas o divino é um só. É partindo desta Lei que a Umbanda se funda, ela é a Um(a)Banda, ou seja, a reunião do todo em Um(a). Sendo assim o que há de semelhante nas religiões de terreiro, em especial a Umbanda pois não posso falar das outras e o paganismo, sobretudo o wiccano:

- Culto circular. Na Umbanda os médiuns formam um círculo junto com o altar. Na wicca, quase todos os seus ritos iniciam com a realização de um "Círculo Mágico"

- Culto a Natureza. Desde os Orixás aos deuses das mais variadas regiões, com o contato com os elementais, os pontos de força.

-Celebração Lunar. Talvez na Umbanda um pouco disfarçada mas muito da magistica umbandista tem a Lua como centro, além de ela ser a representação de quase todas as Iabas e de alguns Orixás como Ogum e Oxóssi.

- Culto ás duas polaridades do Divino. O deus pagão e wiccano é Deus e Deusa, Pai e Mãe. Embora na Umbanda Deus (Zambi, Olorum, Tupã...) seja único,  assexuado e agênero, os Orixás são energias masculinas e femininas, um casal deles toma conta de cada médium.

- Práticas magisticas. Para os mais diversos fins, tanto umbanda quanto paganismo tem na Magia ( manipulação energética por meio de elementos físicos) centro de seu contato com o divino, tendo inclusive escolas umbandistas que formam magos.

Muitas outras semelhanças podemos encontrar. A mais impactante diferença entretanto, está em Jesus, na Umbanda sincretizado com Oxalá e por vezes confundido com o Orixá enquanto na Wicca e no paganismo, embora nada tenham contra a Jesus, o culto ao mesmo não existe.

Para entender isso tínhamos que voltar uns mil anos cronológicos, coisa que aqui agora não podemos. Mas respeitando a diversidade de entendimento dentro da Umbanda, eu não gosto do sincretismo. Uso, vivo com ele, em respeito a minha banda espiritual e a minha dirigência, mas eu, no meu contato particular com a espiritualidade não vivencio o sincretismo. Vejo Jesus como um símbolo. Usando as palavras de Vô Joaquim, a Umbanda pegou Jesus por facilidade. Ora, tinha que ser cristão senão tinham inúmeras punições cíveis e policiais. A umbanda sendo uma religião que falaria aos humildes, usa o vocabulário dos humildes. Mais fácil é dizer que temos que ser caridosos como Jesus ou que temos que agir como Buda? A umbanda falou a língua que o povo entenderia.

Vendo Jesus como o Avatar, como o Arquétipo da fé e da religisiosidade, e não como o Messias, filho de deus, salvador, o diálogo com o paganismo é facilitado.

Posso estar me desenvolvendo na Umbanda e celebrar um Yule, um Beltane? É difícil, muito, mas sim. Os preceitos, as inúmeras explicações (tanto aos umbandistas quanto aos pagãos serão eternas), as adaptações de rito para se encaixar as duas egregoras.

Não dá pra fazer farofa. Exemplo, incorporar um Orixá num Yule, ou evocar Zeus numa gira. Embora o paganismo tenha seu contato mediúnico, um Orixá não vai descer num círculo como ele é na Umbanda e no Candomblé. A Umbanda tem seu representante olímpico, Xango, deus dos raios. Questão de eterno estudo e amálgama. Assim como muitos wiccanos que conheço tem os Orixás como panteão de culto.

Mas e agora, sou wiccano ou sou umbandista? Como sempre digo o sistema religioso aprisiona, a espiritualidade liberta. Eu sempre respondo dizendo, eu sou universalista, creio no sagrado casal e na sacralidade da natureza e a ela cultuo e também aos seus ciclos juntamente a isso tenho meu desenvolvimento mediúnico e trabalho caritativo num terreiro de Umbanda. Para sintetizar, na falta de tempo, e as vezes de paciência mesmo, eu digo que sou umbandista pois a Umbanda é a prática religiosa mais externa enquanto o paganismo é mais interno. Mas acho que o termo certo é bruxo. Pois embora as controvérsias, wicca é religião, paganismo é um sistema de religiões, umbanda é religião, mas bruxaria é prática.

Não quero aqui que os wiccanos vão a praia jogar flores no mar ou que se vistam de branco. Nem que os umbandistas celebrem Yule. Mas sim dizer que a espiritualidade é tão amorosa e abrangente que é Uma só em diversas formas.

A Deusa que há em mim saúda o Orixá que há em você.
Axé, BB.

4 comentários:

  1. Finalmente alguém que compartilha davmesma opinião que eu 😊 texto perfeito.

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  2. Compartilho muito do que escreveste.

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  3. Amei seu texto. Me esclareceu muito. E eu achando que estava errada em ser Umbandista e me interessar pelo paganismo. Parecia que eu estava traindo meus Orixás. Na verdade você me fez entender que não é bem assim.
    Muito obrigada.

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