As religiões majoritárias por alguma razão que não nos compete discutir, desviaram-se do planos do Cristo a quem dizem seguir, se assemelhando mais com o Diabo do que com Deus, como recentemente postou o padre Fabio de Melo no seu Snapchat. O Cristo tratava as mulheres com igualdade, falou mansamente com a samaritana, defendeu a adultera, uma mulher lavou seu corpo preparando-o para a paixão. Embora não tenha sido um feminista, e que seus discípulos mais próximos tenham sido homens, ou pelo menos assim a história chegou a nós, para o tempo em que ele viveu ele foi sim um exemplo no trato com as mulheres.
As leis que diminuem a mulher não partiram da boca de Jesus, ou são anteriores a ele, ou são de algum de seus discípulos. A lei de Moisés é extremamente machista, como também é homofóbica, intolerante, escravista, e a ela Jesus veio por fim. Ele cumpriu a lei, não estamos mais sob o jugo dela. Quanto aos discípulos que escreveram em nome dele, o mais machista é Paulo, mas este lendo suas cartas percebe-se uma enorme dificuldade no trato com as mulheres. Fica então a dúvida, seguimos a Jesus ou a Paulo?
Saindo um pouco da cosmovisão cristã que historicamente é machista e preconceituosa, embora alguns cristãos isolados fazem jus ao nome de Jesus, as religiões pagãs, principalmente a Wicca, tem o dever de ser feminista. Como cultuar-se-á uma Deusa, presente em todas as mulheres, e ao mesmo tempo ser conivente com a cultura do estupro? Como celebrar-se-á a Deusa enquanto defende-se legisladores que legislam em nome do machismo e do preconceito? No mínimo isso é burrice. Falta de entendimento do que é Wicca, de quem é a Deusa.
O mesmo vale para os umbandistas e candomblecistas. De nada adianta levar flores para Iemanjá e não fazer nada contra a cultura do estupro. É irracional festejar as Pombo Giras, muitas deles declaradamente prostitutas, ou mulheres que sofreram na mão do machismo, e depois sair do terreiro defendendo estuprador, ou declarando a infeliz frase " mas ela pediu pra ser estuprada, olha a roupa dela, olha onde ela ia, mas até já tinha filho". Guarde suas rosas, não as dê para Iemanjá. Iemanjá não recebe rosas de machistas.
E hoje dia de Joana D'Arc, em algumas casas sincretizada com a Orixá Obá, uma Orixá em que o feminismo é frequente em sua mitologia, assim como na vida mitologica da santa com que é sincretizada. Ambas sofreram nas mãos dos homens. Uma acusada de bruxa, serva do demônio, outra estuprada pelo seu primeiro marido e roubada pelo segundo, que pouco lhe dava atenção. Ambas, ergueram as mãos e foram à luta. Uma tornou-se guerreira, aprendeu ainda mais o manejo da espada, a outra defendeu a França e segundo relatos² tornou-se a Oferenda Divina.
E nós o que estamos fazendo? Será que não estamos propagando a cultura do estupro com nossos atos? As vezes inconscientemente, as vezes por costume. Nas pequenas coisas, nos pequenos ditados, rindo daquela piada machista, compartilhando posts infelizes, assistindo o Danilo Gentili, apoiando políticos machistas, como o Bolsonaro e o Feliciano.
Que nós, pelo menos nós, devotos do Sagrado Feminino possamos honrar nossas deusas, A Deusa, não somente em Esbats, ou em festas na beira da praia. Muito mais que flores e incensos, A Deusa quer que reconhecemos sua existência em cada mulher.
Outro ponto, quando falamos em mulher, nos referimos a todas as mulheres, cis, trans, homo, hetero. Todas as mulheres.
Que a Deusa, principio sagrado do Feminino em cada um de nós nos auxilie nesta árdua tarefa.
² Segundo: MURRAY, A. Margaret. O DEUS DAS FEIICEIRAS. SÃO PAULO, 2002. Editora Gaia